quinta-feira, 9 de maio de 2013

Estilhaços II. Um livrinho de poemas e desenhos que estava para ser publicado por Luís de Barreiros Tavares pelo grupo Ágora-Feira-da-Ladra em 2009.



Um primeiro livrinho intitulado Estilhaços fora publicado pelo dito grupo.
Alguns destes poemas e extractos talvez revelem alguma ingenuidade e imaturidade. Mas foram escritos quando o autor tinha, sensivelmente, entre dezoito e vinte anos.
Foi, no entanto, uma breve experiência poética que se ficou por aí por força de outras opções.
Portanto, trata-se mais de um registo que se deixa como memórias de uma fase da juventude...








Estilhaços II







Poemas

I

Vapores neblínicos
de madrugada outonal cinzenta.
Estrada infindável no horizonte visual.
Árvores desnudas
ladeantes
percorrem-na.
Caminho-a
olhando campos


II

Cessa ego
Luta pelo fluir
Ondulação de lago
colhendo lágrimas do céu
Sê a calma
de lago 
Sê o lago
ego


Lisboa 15/2/81




III

Ideia
flor
que
brota


Lisb.12/3/82




IV

Gaiola de passarinho
que está solto
Tic-tac              tic-tac
do relógio


Lisboa. 1982




V

Hoje
no Universo
é dia
As galáxias são árvores
As estrelas       pássaros
Os planetas       insectos
As nebulosas        passas de figo
E o sol é Deus


Lisboa.1982



VI

Aquele sonho de um salão lilás …..


Frase-extracto de um poema. Lisboa 1980



VII

Vai me ditando
Eu vou            meditando


Lisboa.31/3/82



VIII

Ide id
ao acordar

catacumbas da mens

onírico alívio


Lisboa.16/4/1982


IX

E o cheiro de papel novo
reminiscência
papiro
que vaguear


Lisboa.16/4/1982



X
 
Pairantes ideias em bruto
na jaula elástica

As ideias entram e saem…


Lisboa. 7/05/1982


XI

Hiberno



XII

Há muito que não olho para um céu estrelado…



XIII

Na procura


XIV


Umbigo
                 centro de gravidade


Lisb.1981

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Luís de Barreiros Tavares



-
Nota: este livrinho seria acompanhado de desenhos que talvez seja colocados em breve neste post


Eis então alguns desenhos:





Amazona - tinta da china em papel, 1981. Este desenho encontra-se no livro Estilhaços I publicado em edição de autor.






Amazona - tinta da china e lápis sobre papel, 1981



 



Amazona - tinta da china branca em cartolina negra, 1982






Sem titulo - lápis de cera em papel A4, 1981-2 (?)





Retrato de Luís Filipe Osório - lápis de cera em papel, 1981-2 (?)








Torso e pernas - esferográfica em papel, 1981-2






Estudo I - lápis grafite em papel, 1982
Realizado no Rossio ao sul do Tejo (Abrantes)

















Estudo II - lápis grafite em papel, 1982








Versão I - Sem título - tinta da china, lápis em papel A4, 1982 








Versão II - Sem título - tinta da china e lápis de cera em papel, 1982 






domingo, 5 de maio de 2013

Esboço de questões deixadas em aberto, inspiradas na abordagem antepredicativa do argumento de Parménides segundo José Trindade Santos


"Como o ser humano fez um dia uma pergunta sobre si mesmo, tornou-se o mais ininteligível dos seres vivos"
Clarice Lispector, "Ritual", in A Descoberta do Mundo




Este “que é” antepredicativo, enquanto nome, a forma participial de to eon, com o sentido nominal ("o [nome] que é"), e reenviando para o pressuposto, não poderá indicar uma pergunta? Uma pergunta nessa afirmação antepredicativa “que é”. Estou a lembrar-me do espanto (thauma) filosófico de que fala Aristóteles. Embora o Estagirita, no processo do seu pensamento e da sua obra, se demarque dele, com o predicativo, quer dizer, com o pensamento categorial que instaura (Organon).
Pois, parece-me que o thauma, apesar de reenviar para uma grande interrogação ante o espectáculo do mundo, é também uma grande exclamação. O tal ‘espanto’, ‘admiração’, não consistirá nisso? E aquela ‘exclamação’ pode implicar um modo originário de ‘afirmação’. Mas afirmação num isto originário de negação, e vice-versa. O dar-se e retirar-se ante a imensidão do Mundo. Estes estados de coisas, por seu turno, no seu modo originário, não se manifestarão como uma forma de apelo ou nomeação inicial? Quero dizer com isto que a estrutura do thauma (θαῦμα) manifesta-se enquanto interrogação e exclamação, talvez ainda sem a linguagem propriamente dita (?). Mas também enquanto um estranho cruzamento, para nós, talvez, de afirmação e negação. Daí, interrogação, ou auto-interrogação como uma afirmação - ante o espectáculo enquanto espectáculo (thauma) que se interroga enquanto tal, supondo-se a possibilidade de, nessa condição, enquanto afirmação, ao mesmo tempo negar-se.
Terá provavelmente a ver com o balbuciar originário perante o Caos ancestral (Xάος, que precisamente reenvia etimologicamente para a partícula ou raiz  cha’ (χα - um entreabrir de boca, hiato, um balbuciar, um bocejo, abertura, não significando originalmente ‘desordem’).  A este propósito, veja-se, por exemplo, Os Filósofos Pré-Socráticos  de Kirk e Raven (ed. Gulbenkian, p.20). No entanto não me parece que poderemos falar de antepredicatividade neste plano. Como se situa então a antepredicatividade em Parménides, sendo que ela parece mediar qualquer processo, abrindo caminho ao que ela não é: o predicativo? 



Veja-se outros posts neste blogue sobre a antepredicatividade em Parménides

Este texto carece de revisão

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Antepredicatividade em Parménides








L.B.Tavares : Estou a escrever umas breves notas sobre Parménides e a antepredicatividade no contexto dos seus estudos sobre ele.
Neste momento interessa-me particularmente um ponto sobre o qual estou com algumas dificuldades. O José pode explicitar-me um pouco como pensa a questão da "'imobilidade' e 'imutabilidade'" na forma participial de to eon, com o sentido nominal ("o [nome] que é") segundo o ponto de vista antepredicativo e não segundo o predicativo? Como visa esta questão, sendo que se trata da mesma segundo dois pontos de vista (predicativo e antepredicativo)? É que, segundo a sua tese, a questão da imobilidade e imutabilidade é pertinente no plano antepredicativo e não no predicativo. Quer dizer, há quem considere - em geral? - esta questão em Parménides segundo a leitura predicativa. Em contrapartida, do seu ponto de vista, essa leitura não tem cabimento.
Cito um passo do resumo da conferência em Lisboa ("Uma leitura antepredicativa do argumento de Parménides"):
"4. a 'unidade', ingenerabilidade', e incorruptibilidade', 'imobilidade' e 'imutabilidade', 'indivisibilidade' e 'completude' de "o que é" (B81.49).
 "Defendo que estas teses [citei a 4ª] são inaceitáveis se "que é/que não é" (B2.3,5) forem lidos predicativamente, atribuindo 'existência' e 'verdade' a algo " que é" e negando-as a "o que não é"." (sublinhei)
Desculpe se não apresentei melhor as questões.


30/04/2013
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José Trindade Santos: Passo a responder. Primeiro, a crítica à predicatividade. Se é incontestável que neste mundo (kosmos: B4) há movimento e mudança, como pode a leitura predicativa do argumento negá-lo? (suprimo o aprofundamento do absurdo de um argumento contrafactual). Pelo contrário, numa leitura ~predicativa [antepredicativa], "imutabilidade, etc." são pressupostos da cognoscibilidade de "o que é". Pois, como se pode conhecer o que muda (de lugar e de natureza: B8.40-41), portanto que é e não é, sem negar B2.7? 
Quer dizer. A ~predicatividade não nega que o mundo se comporte como se comporta; apenas que desse comportamento não pode haver conhecimento. Por outro lado, a ~p não se entrega à exploração do mundo, mas ao estabelecimento das condições a que todo o conhecimento terá de atender.
O argumento vale também para a 'existência' e para a 'verdade', mas a argumentação segue outra linha.


30/04/2013 

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