quinta-feira, 2 de maio de 2013

Antepredicatividade em Parménides








L.B.Tavares : Estou a escrever umas breves notas sobre Parménides e a antepredicatividade no contexto dos seus estudos sobre ele.
Neste momento interessa-me particularmente um ponto sobre o qual estou com algumas dificuldades. O José pode explicitar-me um pouco como pensa a questão da "'imobilidade' e 'imutabilidade'" na forma participial de to eon, com o sentido nominal ("o [nome] que é") segundo o ponto de vista antepredicativo e não segundo o predicativo? Como visa esta questão, sendo que se trata da mesma segundo dois pontos de vista (predicativo e antepredicativo)? É que, segundo a sua tese, a questão da imobilidade e imutabilidade é pertinente no plano antepredicativo e não no predicativo. Quer dizer, há quem considere - em geral? - esta questão em Parménides segundo a leitura predicativa. Em contrapartida, do seu ponto de vista, essa leitura não tem cabimento.
Cito um passo do resumo da conferência em Lisboa ("Uma leitura antepredicativa do argumento de Parménides"):
"4. a 'unidade', ingenerabilidade', e incorruptibilidade', 'imobilidade' e 'imutabilidade', 'indivisibilidade' e 'completude' de "o que é" (B81.49).
 "Defendo que estas teses [citei a 4ª] são inaceitáveis se "que é/que não é" (B2.3,5) forem lidos predicativamente, atribuindo 'existência' e 'verdade' a algo " que é" e negando-as a "o que não é"." (sublinhei)
Desculpe se não apresentei melhor as questões.


30/04/2013
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José Trindade Santos: Passo a responder. Primeiro, a crítica à predicatividade. Se é incontestável que neste mundo (kosmos: B4) há movimento e mudança, como pode a leitura predicativa do argumento negá-lo? (suprimo o aprofundamento do absurdo de um argumento contrafactual). Pelo contrário, numa leitura ~predicativa [antepredicativa], "imutabilidade, etc." são pressupostos da cognoscibilidade de "o que é". Pois, como se pode conhecer o que muda (de lugar e de natureza: B8.40-41), portanto que é e não é, sem negar B2.7? 
Quer dizer. A ~predicatividade não nega que o mundo se comporte como se comporta; apenas que desse comportamento não pode haver conhecimento. Por outro lado, a ~p não se entrega à exploração do mundo, mas ao estabelecimento das condições a que todo o conhecimento terá de atender.
O argumento vale também para a 'existência' e para a 'verdade', mas a argumentação segue outra linha.


30/04/2013 

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