domingo, 5 de maio de 2013

Esboço de questões deixadas em aberto, inspiradas na abordagem antepredicativa do argumento de Parménides segundo José Trindade Santos


"Como o ser humano fez um dia uma pergunta sobre si mesmo, tornou-se o mais ininteligível dos seres vivos"
Clarice Lispector, "Ritual", in A Descoberta do Mundo




Este “que é” antepredicativo, enquanto nome, a forma participial de to eon, com o sentido nominal ("o [nome] que é"), e reenviando para o pressuposto, não poderá indicar uma pergunta? Uma pergunta nessa afirmação antepredicativa “que é”. Estou a lembrar-me do espanto (thauma) filosófico de que fala Aristóteles. Embora o Estagirita, no processo do seu pensamento e da sua obra, se demarque dele, com o predicativo, quer dizer, com o pensamento categorial que instaura (Organon).
Pois, parece-me que o thauma, apesar de reenviar para uma grande interrogação ante o espectáculo do mundo, é também uma grande exclamação. O tal ‘espanto’, ‘admiração’, não consistirá nisso? E aquela ‘exclamação’ pode implicar um modo originário de ‘afirmação’. Mas afirmação num isto originário de negação, e vice-versa. O dar-se e retirar-se ante a imensidão do Mundo. Estes estados de coisas, por seu turno, no seu modo originário, não se manifestarão como uma forma de apelo ou nomeação inicial? Quero dizer com isto que a estrutura do thauma (θαῦμα) manifesta-se enquanto interrogação e exclamação, talvez ainda sem a linguagem propriamente dita (?). Mas também enquanto um estranho cruzamento, para nós, talvez, de afirmação e negação. Daí, interrogação, ou auto-interrogação como uma afirmação - ante o espectáculo enquanto espectáculo (thauma) que se interroga enquanto tal, supondo-se a possibilidade de, nessa condição, enquanto afirmação, ao mesmo tempo negar-se.
Terá provavelmente a ver com o balbuciar originário perante o Caos ancestral (Xάος, que precisamente reenvia etimologicamente para a partícula ou raiz  cha’ (χα - um entreabrir de boca, hiato, um balbuciar, um bocejo, abertura, não significando originalmente ‘desordem’).  A este propósito, veja-se, por exemplo, Os Filósofos Pré-Socráticos  de Kirk e Raven (ed. Gulbenkian, p.20). No entanto não me parece que poderemos falar de antepredicatividade neste plano. Como se situa então a antepredicatividade em Parménides, sendo que ela parece mediar qualquer processo, abrindo caminho ao que ela não é: o predicativo? 



Veja-se outros posts neste blogue sobre a antepredicatividade em Parménides

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