sábado, 4 de fevereiro de 2017

Jorge Luis Borges – Labirinto

Labirinto

«Zeus não poderia desatar as redes

de pedra que me me cercam. Olvidei

os homens que antes fui; sigo o odiado

caminho de monótonas paredes

que é o meu destino. Rectas galerias

que se curvam em círculos secretos

ao cabo de anos. Parapeitos

que havia gretado a usura dos dias.

No pálido pó decifrei

rastros que temo. O ar me trouxe

nas concavas tardes um bramido

ou o eco de um bramido desolado.

Sei que na sombra há Outro, cuja sorte

é fatigar as vastas solidões

que tecem e destecem este Hades

e ansiar meu sangue e devorar a minha morte.

Um ao outro nos buscamos. Oxalá fosse

este o último dia da espera.»

Jorge Luis Borges, Antologia Poética (1923 / 1977), Madrid, Alianza / Emecé, 1986, p. 91.

Tradução: L. B. Tavares

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