terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Sophia de Mello Breyner Andresen - um poema: VI (Antinoos de Delphos)

Sophia de Mello Breyner Andresen

VI (Antinoos de Delphos)

Tua face taurina tua testa baixa
Teus cabelos em anel que sacudias como crina
Teu torso inchado de ar como uma vela
Teu queixo redondo tua boca pesada
Tua pesada beleza
Teu meio-dia nocturno
Tua herança dos deuses que no Nilo afogaste
Tua unidade inteira com teu corpo
Num silêncio de sol obstinado
Agora são de pedra no museu de Delphos
Onde montanhas te rodeiam como incenso
Entre o austero Auriga e a arquitrave quebrada

Delphos, Maio de 1970

do capítulo 2 “Delphica”
na capa: retrato de Sophia, por Arpad Szenes

Sophia de Mello Breyner Andresen, Dual, Lisboa, Salamandra, 1986, p.24 (3ª edição)


transcrevendo-lendo do livro




Sem comentários:

Enviar um comentário