domingo, 12 de fevereiro de 2017

Maria Amélia Neto - um outro poema



VENTO,  VENTO...

Vento, Vento, que podes tu fazer?
Apagou-se o fogo, a noite é escura,
A treva começa, nasce a erosão.
«Duhkha, duhkha, duhkha!»,
Dizem no atalho os lábios secos.
Vento, Vento, escuta o sussurro!
De manhã um mago sentou-se na pedra:
Os seus olhos brilharam, as folhas abriram,
O sol resplandeceu no manto de seda.
O presente é a noite, a manhã o passado,
Há grades nos olhos, nas mãos, nas palavras,
Mesmo a rocha sofreu a traição dos limos.
Vento, Vento, quem pode guiar-me?
A fogueira sumiu-se, o feiticeiro levantou-se,
A chama não falou, o segredo sorriu,

Vento, Vento, que podes tu fazer?

Maria Amélia Neto, Cicuta em Março, Lisboa, 1964, pgs. 46 e 47.






Sem comentários:

Enviar um comentário