Sophia de Mello Breyner
Andresen
VI (Antinoos de Delphos)
Tua face taurina tua
testa baixa
Teus cabelos em anel que sacudias
como crina
Teu torso inchado de ar
como uma vela
Teu queixo redondo tua
boca pesada
Tua pesada beleza
Teu meio-dia nocturno
Tua herança dos deuses
que no Nilo afogaste
Tua unidade inteira com
teu corpo
Num silêncio de sol
obstinado
Agora são de pedra no
museu de Delphos
Onde montanhas te rodeiam
como incenso
Entre o austero Auriga e
a arquitrave quebrada
Delphos, Maio de 1970
do capítulo 2 “Delphica”
na capa: retrato de
Sophia, por Arpad Szenes
Sophia de Mello Breyner
Andresen, Dual, Lisboa, Salamandra, 1986, p.24 (3ª edição)
transcrevendo-lendo do
livro
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