segunda-feira, 23 de junho de 2014

Momentos - no Intervalo do Colóquio Internacional sobre Zizek: Viver Perigosamente...










Vítor Oliveira Jorge, Carlos Correia Monteiro de Oliveira e Luís de Barreiros Tavares, durante o Colóquio Internacional sobre Zizek: "Viver Perigosamente", 10-11/4/2014...




domingo, 22 de junho de 2014

Almoço no Restaurante "Golfinho" em Sesimbra...









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Na foto: Manuel Diogo, Miguel Real, Pedro Martins, Eugénia Martins, Anahi (filha de António Telmo), Maria Antónia Vitorino (viúva de António Telmo), António Carlos Carvalho, Daniel Pires e Luís de Barreiros Tavares, entre outros...




Antes de uma das sessões das "Tardes Télmicas" - Projecto "António Telmo. Vida e Obra" em colaboração - Câmara Municipal de Sesimbra - 03/05/2014 - Sala Polivalente da Biblioteca Municipal de Sesimbra



quinta-feira, 12 de junho de 2014

Testemunho de Manuel Ferreira Patrício para a NOVA ÁGUIA 14 - Umas questões, por Luís de Barreiros Tavares












Luís de Barreiros Tavares: Sei que tem dedicado grande parte da sua longa carreira à questão complexa da Pedagogia. Inclusive, já li alguns textos seus sobre este tema. Mas é do conhecimento de todos que se entregou e ainda se entrega à questão do Pensamento, da Linguagem e da Filosofia. Como conjuga estas várias dimensões e como é que elas contribuem umas para as outras no plano, quer académico, quer vivencial, quer dizer, para a vida dos homens em sociedade e no seu habitar o Mundo?



1. O pensamento, mais precisamente o pensamento filosófico, interessou-me desde criança. Em minha casa não havia biblioteca, mas os meus pais gostavam visivelmente de pensar e revelavam capacidade para o fazer. A sua escolaridade reduzia-se ao ensino primário de então (eu nasci em Setembro de 1938 e entrei na escola primária em Outubro de 1945). O meu pai concluíra o ensino primário, tal como julgo que a minha mãe. O meio era pequeno e pobre. Frequentar a escola oficial já era só por si um privilégio. Devo dizer que foram ambos excelentes alunos: o meu pai vocacionado para as artes e ofícios, a minha mãe claramente apelada para o saber de humanidades. A minha mãe deve ter sido naquela vila a criança mais dotada do seu tempo. Foi-o ao longo de toda a sua vida. Quanto ao meu pai, aprendeu o ofício de carpinteiro, no qual atingiu para aquele meio verdadeiramente a excelência. Somos três irmãos e todos pudemos prosseguir estudos. Eu sou o mais velho. A nossa primeira escola foi a nossa família, que incluiu a casa dos avós paternos e algo aproveitámos dos avós maternos. O meu interesse pelo pensamento reflexivo manifestou-se mais claramente em casa dos avós paternos, a partir das histórias da tradição popular portuguesa que me contavam e que me fascinavam. Suscitavam-me imensas questões, respondendo à minha exigência pessoal de racionalidade. Devo dizer, que de racionalidade profunda. Manifestou-se em mim desde logo a paixão pelas questões das ultimidades. Essa paixão tem-me acompanhado toda a vida. Comprei o meu primeiro livro aí pelos meus sete ou oito anos. Comprei-o na escola, no contexto de uma iniciativa do meu professor - que, curiosamente, era natural da aldeia natal do Pinharanda Gomes, Quadrazais... Foi uma escolha de certo modo fortuita; as outras crianças foram mais céleres do que eu e escolhi, perante o que havia ainda disponível, O Livro dos Sonhos. Durante muito tempo li e consultei esse livro, que era uma espécie de dicionário, ordenado alfabeticamente. A minha mãe acompanhava-me muitas vezes na leitura e foi sempre uma hermeneuta empenhada e exigente. Mais tarde, quando pude estudar um pouco o pensamento de Freud, acabei por verificar que aqueles sonhos eram os que constituíam o saber do Egipto antigo sobre o assunto. Foi-me útil essa experiência numas provas de Mestrado que arguí na Universidade do Minho. Foi-me útil sempre. Freud conhecia aqueles sonhos. O meu avô materno era um leitor apaixonado da Bíblia e essa circunstância veio a pesar na atenção que veio a ser prestada àquele livro. A Bíblia deu-me indicações fundamentais para pensar no horizonte das ultimidades. Aí a meio da minha adolescência, descobri um escritor, um romancista, de pendor filosófico e argumentativo: Aldous Huxley. Alguns dos seus romances eram por essa época traduzidos em Portugal e editados por uma importante editora portuguesa, a Livros do Brasil. O primeiro que li foi Sem Olhos em Gaza (Eyeless in Gazza). Li com entusiasmo esse romance. Era como se Huxley me provocasse persistentemente para argumentar filosoficamente, com ele mas sobretudo com os problemas que os personagens do romance colocavam e as discussões que tinham. Problemas concretos, vivos, que punham em causa tudo o que eu vivia e pensava. Vim em continuação a ler outros romances e novelas de Huxley, na atmosfera empirista e inglesa que era a sua. Por exemplo: Contraponto; O macaco e a essência. Muitos anos depois, vim a saber pelo António Telmo que o lado empirista do Huxley era travejado com outros lados, mais congruentes com o meu gosto pelas ultimidades, que fazem parte do problema fundamental para mim que é o problema do sentido. Durante quatro anos (1950-1954) eu frequentei o Seminário Menor de Vila Viçosa, de onde saí por ter reconhecido a falta de vocação. O apelo das ultimidades, sempre presente e sempre forte, não passava por ali. Depois d'O Livro dos Sonhos, já depois da saída do Seminário, eu viera a ler outro livro marcante, A Morgadinha dos Canaviais, do nosso Júlio Dinis, em que num certo episódio venho a saber da hipótese da metempsicose. Era de novo o universo dos sonhos que vinha ter comigo. Assim, quando concluí os exames do antigo 7º Ano do Liceu eu dirigi-me decididamente para o Curso de Filosofia, na Faculdade de Letras de Lisboa. Mas entretanto eu fizera o Curso do Magistério Primário na Escola de Évora. No mesmo mês em que ingresso na Faculdade eu começo a trabalhar como professor do ensino primário na cidade de Lisboa.



2. A experiência pedagógica com as crianças tornou-se apaixonante para mim. Afinal, eu amava o mergulho no pensar e fui apanhado pelo amor de ensinar. Cheguei a casar na minha Escola os dois amores: o amor da filosofia com o amor da educação. Foi desse casamento que veio a nascer o meu projecto de filosofia para crianças, que se relaciona com as histórias tradicionais que a minha avó me contava e nada deve ao projecto do Professor norte-americano Mathew Lipman, de que só vim a saber no final da década de oitenta. Como já percebeu, tudo isto que lhe conto tem que ver com o gosto do pensamento e da acção formadora do ser humano, a que conjugadamente tenho dedicado a minha vida. Fui a partir de 1967 professor liceal de Filosofia e a partir de 1976 professor de Pedagogia e Filosofia na Universidade. Esta conjugação levou-me a certa altura a substituir a ideia de pedagogia pela ideia de antropagogia. Do que se trata realmente não é, de facto, apenas de educar (ou formar) a criança, mas o homem, o ser humano na sua integralidade e integridade. Antropagogia é a ciência disso. Ela inclui, na plenitude da sua unidade, o compreender o homem e o formá-lo. Kant reduz a certa altura a filosofia a uma única pergunta. Esta: Que é o Homem? A minha dupla ligação ao pensamento e à acção coloca em outra pergunta o problema essencial: Como formar o Homem na sua Humanitas? É a pergunta que define o meu cuidado vital. Ela implica tudo: desde as principialidades até às ultimidades.



3. Este itinerário compreende ainda as medialidades e as performatividades. Aprendi, por mim próprio e por grandes mestres - como é o caso de Leonardo Coimbra, Delfim Santos, José Marinho e José Ortega y Gasset -, que o pensar filosófico é situado, ou circunstanciado. A fixação pensante na situação explica muito da minha fidelidade à situação portuguesa e lusófona. Quer estritamente filosófica, quer mais largamente antropagógica. É essa fidelidade que explica o combate em que a certa altura me envolvi em prol do que designei por "Escola Cultural", a partir da Comissão de Reforma do Sistema Educativo, que integrei oficialmente. No livro Lições de Axiologia Educacional, à educação cultural dei o nome de educação axiológica, entendendo a cultura como sistema vivo de valores. É nesta linha teórica que me encontro com o entendimento brunino da educação como demopedia, ou seja, como demopaideia, paideia do e para o povo.



4. O meu abraço demopaidêutico, antropagógico e assumidamente filosófico ao Luís de Barreiros Tavares. Abraço de vida una e diversa. A vida é diversa e una.