Continuação
António Lobo Antunes “O Manual dos Inquisidores”…
vide a postagem
anterior sobre a obra
“[…] as
minhas irmãs e as minhas primas passadas, a contratarem à pressa um advogado
que impedisse a dactilógrafa de entrar para a família e herdar os zero vírgula
oito do meu pai que elas julgavam que eram vinte e nove e era bom que julgassem
e não me moessem o juízo com desconfianças e insinuações maldosas quando tudo o
que fiz foi proteger a família e é conveniente, conhecida a obtusa ingratidão
dos meus parentes, a família ignorar que está a ser protegida, as minhas irmãs
e as minhas primas para mim, cambaleando de medo de se tornarem pobres como os
pobres a quem davam camisolas e sopinhas ao domingo, de roda do espertalhão do
prior, um vivaço e peras que até nem era feio e não havia ano que não comprasse
um BMW novo à minha custa, as minhas irmãs e as minhas primas para mim, a
girarem no gabinete num turbilhão de pó-de-arroz.
– E agora?
e eu a
despachar processos, exausto daquele ciclone de chantungs (1)
– Aos
oitenta anos o pai tem direito a divertir-se um bocadinho como lhe der na gana
ou não tem?”
(não continua,
é questão de pegar no livro)
(1)
nota minha de
rodapé: “chantung” parece ser qualquer coisa como um tecido bastante
decorativo, uma certa chinezice, segundo a minha breve consulta no Google…
António
Lobo Antunes, O Manual dos Inquisidores, Lisboa, Dom Quixote, 1996, p. 108. X
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