Bartleby
– o escrivão … ou o “copista”… por Herman Melville
I would
prefer not to
esta mensagem foi primeiramente publicada no nosso mural do facebook...
excerto
(para quem tenha pachorra de ler)… este foi hoje transcrito (copiado) para o
word… mas deu gozo…calmamente e com exactidão, partilhando e relendo… depois
copiar-colar…
“Poucos
dias depois Bartleby terminou quatro extensos documentos, quadruplicado de
depoimentos feitos perante mim [homem de leis – narrador], durante uma semana,
no exercício das minhas funções no High Court of Chancery. Era necessário conferi-los.
Tratava-se de um processo importante, exigia-se a maior exactidão. Tendo tudo
preparado, chamei Turkey [Peru], Nippers [Tenazes] e Ginger Nut [(Bolo) de
Gengibre] [“dois copistas – escrivães – e um moço de recados”], da outra sala,
com o intuito de pôr cada uma das quatro cópias nas mãos de cada um dos meus
quatro empregados, enquanto que eu leria o original. Já Turkey, Nippers e
Ginger Nut tinham ocupado os seus lugares, cada um com o respectivo documento
na mão, quando chamei por Bartleby, para que se juntasse a este interessante
grupo.
–
Bartleby! Depressa, estou à espera!
Ouvi o
lento arrastar dos pés da cadeira no soalho nu, e pouco depois ele surgiu, de
pé, à entrada do seu refúgio.
– O que
é preciso? – perguntou calmamente.
– As cópias!
As cópias! – exclamei eu, apressadamente. – Vamos conferi-las.
– Ali! E
estendi-lhe uma quarta cópia.
–
Preferiria de não [“I would prefer not to”; ou, p. ex., “preferiria não o
fazer”] – respondeu, desaparecendo calmamente por trás do biombo.
Durante
alguns instantes, vi-me transformado num pilar de sal, de pé à cabeça da minha
coluna sentada de empregados. Recompondo-me, dirigi-me ao biombo, e inquiri da
razão de tão extraordinária conduta.
– Por
que se recusa? [“Por que” está em itálico, mas no FB não dá…]
–
Preferiria de não.
Com
qualquer outro indivíduo, ter-se ia apossado de mim uma cólera terrível, e sem
gastar sequer mais palavras, tê-lo-ia enxotado ignominiosamente da minha
presença. Mas havia qualquer coisa em Bartleby que não só estranhamente me
desarmava, como também, de um modo singular, me tocava e desconcertava. Comecei
a argumentar com ele.
– São as
suas próprias cópias que vamos conferir. É trabalho que lhe poupamos, visto que
bastará conferir uma vez. É prática comum. Todo o copista é obrigado a ajudar a
conferir as suas próprias cópias. Não é assim? Mas não fala? Responda!
–
Prefiro de não (“I prefer not to”) – respondeu, numa voz aflautada. Pareceu-me
que, enquanto eu lhe falava, ele ia considerando cuidadosamente tudo quanto eu
dizia; apreendendo completamente o sentido; e sem poder negar a inevitável
conclusão; mas, ao mesmo tempo, uma qualquer consideração suprema o levava a
responder como o tinha feito.”
[continua]
Herman
Melville, Bartleby – O Escrivão, ed. De Giorgio Agamben e Pedro A. H. Paixão,
trad. P. H. Paixão, Lisboa, Assírio & Alvim, 2007, pgs. 84 e 85.
Vou
copiar-colar para um blogue, porque no fb ainda mais rapidamente fica esquecido…
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