L.B.T. : Umas questões.
Algumas creio já lhe ter posto por outras palavras numa das duas entrevistas.
a) Considera alguma dimensão espiritual no Poema de Parménides? b) Em que
medida a sua leitura poderá ir ou não nesse sentido? c) Por outro lado - isto
não é uma provocação mas uma curiosidade - a sua leitura de Parménides poderá
ou não ter alguma aplicação, digamos, na compreensão do real dos nossos dias?
Quer dizer, no modo de pensar ou numa certa emergência a pensar diferente hoje?
Isto tendo em conta, de certa maneira, a antepredicatividade como a recusa a um
pensar e agir que se caracterizam por um uso excessivo das coisas, das ideias,
muito herdeiro, talvez, da predicatividade constitutiva da tradição do
pensamento ocidental-europeu ainda não suficientemente pensado na
contemporaneidade. Numa palavra, e para ser mais directo, de que modo o seu
pensamento poderá ter alguma aplicabilidade, embora outra, na realidade, no
Real, etc.? E se não tem como é que não tem? Qual a sua actualidade?
20/07/2013
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J.T.S. : Esta é das séries de
perguntas mais complicadas que V. me enviou.
a) Considera alguma
dimensão espiritual no Poema de Parménides?
Não. Ela está lá,
como mostrou K. Rheinardt, em 1916. Mas não me interesso por ela.
b) Em que medida a
sua leitura poderá ir ou não nesse sentido?
Não vai nesse
sentido, mas no de uma abordagem lógica e epistemológica do argumento de P. e
das consequências que teve na tradição grega. Interessa-me apenas o P. recebido
pelos outros pensadores. Essa recepção incide no modo como a argumentação
eleática foi acomodada é estrutura doutrinal dos pensadores que a
recebem.
c) Por outro lado -
isto não é uma provocação mas uma curiosidade - a sua leitura de Parménides
poderá ou não ter alguma aplicação, digamos, na compreensão do real dos nossos
dias? Quer dizer, no modo de pensar ou numa certa emergência a pensar diferente
hoje? Isto tendo em conta, de certa maneira, a antepredicatividade como a
recusa a um pensar e agir que se caracterizam por um uso excessivo das coisas,
das ideias, muito herdeiro, talvez, da predicatividade constitutiva da tradição
do pensamento ocidental-europeu ainda não suficientemente pensado na
contemporaneidade.
P. está presente,
mas oculto, no nosso modo de pensar. Há muitos argumentos n.predicativos
subsistentes (p. ex. E. Gettier
e os efeitos que o
seu artigo de 1964 (?)), como muita bibliografia atesta (v. os PhilPapers).
Mas, para mim, o maior interesse da a/p é histórico-filosófico, no que concerne
a uma alegada "epistemologia grega arcaica".
d) Numa palavra, e
para ser mais directo, de que modo o seu pensamento poderá ter alguma
aplicabilidade, embora outra, na realidade, no Real, etc.? E se não tem como é
que não tem? Qual a sua actualidade?
Na linha da
Fenomenologia, a a/p foi tratada por Husserl, num sentido cognitivo, e por
Heidegger, num sentido ontológico e antropológico. Não me interesso por esse
interessantíssimo aspecto da a/p. Fale com o Prof. Pedro Alves!
20/07/2013
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