«Pode-se agora voltar à questão de saber
porque é que Aristóteles não pensou o signo. Os Estóicos acrescentaram ao par
nome/coisa um terceiro termo, o λέκτοѵ (ou significação), com o estatuto
ontológico de 'incorporal' (tal como o vazio, o lugar e o tempo). Ora, o
fundador da escola da Stoa, Zenão de Cítio, era semita de origem e só aprendeu
o grego na escola, era bilingue: a tradução era-lhe pois familiar como aos
Gregos clássicos não. Quando se quer pensar o que não muda, o bilingue põe a
questão de maneira diferente do que só fala-pensa em grego. A oὐσία
(substância) das coisas não muda, foi Aristóteles quem no-lo ensinou; os nomes
mudam consoante as línguas, Aristóteles sabe-o 'em teoria' (ver início de Da
Interpretação), Zenão sabe-o 'na prática'; o λέκτοѵ não muda segundo Zenão, e
disso Aristóteles não diz nada, isso não lhe diz nada a ele, que só fala grego.
O signo é helenístico, pressupõe a tradução, que sem ele não se pode fazer. E
consuma a separação do triedro: o pensamento como λέκτοѵ ou sentido, a
realidade como coisa ou referente e a linguagem como nome ou palavra. Esta
sendo a única que muda, está de si mesma destinada à subordinação como ὀργαѵοѵ
(instrumento).»
Fernando Belo; Seja um Texto de Paixão,
Suplemento a: Filosofia e Ciências da Linguagem, Lisboa, Colibri, § 32;
p.30.
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