L.B.Tavares : Estou a escrever umas breves notas sobre
Parménides e a antepredicatividade no contexto dos seus estudos sobre ele.
Neste momento interessa-me particularmente um
ponto sobre o qual estou com algumas dificuldades. O José pode explicitar-me um
pouco como pensa a questão da "'imobilidade' e 'imutabilidade'" na
forma participial de to eon, com o sentido nominal ("o [nome] que
é") segundo o ponto de vista antepredicativo e não segundo o predicativo?
Como visa esta questão, sendo que se trata da mesma segundo dois pontos de
vista (predicativo e antepredicativo)? É que, segundo a sua tese, a questão da
imobilidade e imutabilidade é pertinente no plano antepredicativo e não no
predicativo. Quer dizer, há quem considere - em geral? - esta questão em
Parménides segundo a leitura predicativa. Em contrapartida, do seu ponto de
vista, essa leitura não tem cabimento.
Cito um passo do resumo da conferência em
Lisboa ("Uma leitura antepredicativa do argumento de Parménides"):
"4. a 'unidade', ingenerabilidade', e
incorruptibilidade', 'imobilidade' e 'imutabilidade',
'indivisibilidade' e 'completude' de "o que é" (B81.49).
"Defendo que estas teses [citei a
4ª] são inaceitáveis se "que é/que não é" (B2.3,5) forem lidos
predicativamente, atribuindo 'existência' e 'verdade' a algo " que
é" e negando-as a "o que não é"." (sublinhei)
Desculpe se não apresentei melhor as questões.
30/04/2013
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José Trindade Santos: Passo a responder. Primeiro, a crítica à
predicatividade. Se é incontestável que neste mundo (kosmos: B4) há
movimento e mudança, como pode a leitura predicativa do argumento negá-lo?
(suprimo o aprofundamento do absurdo de um argumento contrafactual). Pelo
contrário, numa leitura ~predicativa [antepredicativa], "imutabilidade, etc." são
pressupostos da cognoscibilidade de "o que é". Pois, como se pode
conhecer o que muda (de lugar e de natureza: B8.40-41), portanto que é e não é,
sem negar B2.7?
Quer dizer. A ~predicatividade não nega que o
mundo se comporte como se comporta; apenas que desse comportamento não pode
haver conhecimento. Por outro lado, a ~p não se entrega à exploração do mundo,
mas ao estabelecimento das condições a que todo o conhecimento terá de atender.
O argumento vale também para a 'existência' e
para a 'verdade', mas a argumentação segue outra linha.
30/04/2013
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