Parménides, frag. 2
Vamos, vou dizer-te - e tu escuta e fixa o relato que ouviste -
quais os únicos caminhos de investigação que há para pensar:
um que é, que não é para não ser,
é caminho de confiança (pois acompanha a verdade);
(5) o outro que não é, que tem de não ser,
esse te indico ser caminho em tudo ignoto,
pois não poderás conhecer o que não é, não é consumável,
nem mostrá-lo [...]
frag. 3
[...] pois o mesmo é ser e pensar.
frag. 6
É necessário dizer e pensar que é seja; pois pode ser,
enquanto nada não é [...]
frag. 8, 35
Pois, sem o que é - ao qual está prometido -,
não acharás o pensar. Pois não é e não será
outra coisa além do que é [...]
Tradução de José Trindade Santos
L.B.T. : Em que medida as seguintes questões podem ou não ser colocadas?
Da forma participial de to eon, com o sentido nominal ("o [nome] que é"), decorre que este é prévio à coisa, a algo (eventual coisa a que se refere como predicado - predicativamente), e, portanto, não é nome de coisa, "é autoreferencial"?
Até que ponto se pode deste modo apontar para um sentido mais originário do chamado princípio de contradição (também designado "princípio de não-contradição") enunciado e tematizado por Aristóteles (Metafísica, 1005b,20), retomado muito mais tarde por Aquino, dizendo mais ou menos "uma coisa não pode ser e não ser ao mesmo tempo e sob o mesmo aspecto"?
26/03/2013
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J.T.S. : Tocou no nervo da minha interpretação de Parménides. Não
há dúvida de que (1) o particípio to eon tem um sentido nominal. Daí a
lê-lo (2) como um nome vai um pequeno passo. Contudo, (3) entender hôs
estin/hôs ouk estin como ‘nomes’ que se referem a si próprios é mais
difícil de aceitar.
Acredito que é assim que devem ser lidos. Mas ainda busco um
argumento que me permita passar pacificamente de (2) a (3). O caminho que estou
a tentar é o de mostrar que não há base para ler as formas verbais como
cópulas, porque, se o argumento nunca remete para um sujeito de estin, to
eon, eon, einai, porque é que deveria subentender um predicativo: “algo”,
“que é” (ou “existe”)?
Do mesmo modo, se nunca é necessário subentender “alguém”
que “pense”, porque é que se supõe que tem de haver “algo” pensado, exterior ao
‘pensamento’?
Finalmente, porque é que se faz coincidir “o” que é com “o”
que “é pensado”, supondo que será um “cosmos” (B4.3)? Porque é que o argumento
se não refere apenas à síntese “pensamento/pensar/pensado”, sem ter de supor
que há uma distinção entre os referentes de cada um dos termos (um ‘pensamento’
que ‘pensa’ “algo” ‘pensado’)?
Além disto não quero por ora avançar.
26/03/2013
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