quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Poesia e prosa-poética - dispersos - quatro cadernos - Manoel Tavares Rodrigues-Leal



Títulos possíveis: "Liturgias do Sul", "Liturgia do Ser", "Ser Insular" (1996)
Inscrição de Édipo Rei (Sófocles)





"On ramène les fillettes dans le
gynécée, tandis qu'on fait rentrer
Œdipe par la grande porte du
palais."

Œdipe Roi
Sophocle



























"O Comércio do Amor" (1980)



"Dies Irae"
 ------- Carl Dreyer




























Assim me fito e me leio no frio espelho
da vida que quebra morre em enganos
de amor. E pra o interior das coisas nuas...
não me conheço, qual a humílima revelação careço
da nudez da peregrinação, oh minha inocência e ira...






(Pensando em Pessoa)
Caderno a indicar pelo autor

































(Pensando em Pessoa)

triste é a tarde
de quanto existe

assim se consente
no usado no imperfeito
de tudo quanto cabe no peito
e descamba no ausente

Lxª.26/9/96




"Poemana" (1976)









"Luz de Dezembro" (1978)

 








Ensaios de leitura:

















sábado, 16 de fevereiro de 2013

Arquivo - Poemas manuscritos de vertente erótica - por Manoel Tavares Rodrigues-Leal



Advertências:
Não sabemos bem se devemos pôr letra minúscula ou maiúscula no início dos versos. Em conversa com o autor, acontece por vezes hesitar. Também indica que se coloque uma letra "média" (?). De facto, é um detalhe ainda não decidido, pois os textos não passaram pela leitura e acabamento finais para eventual publicação. Todavia, nos livros já publicados em edição de autor (5 livros), Manoel optou por letra minúscula (http://linguafone.blogspot.com). Com efeito, pode observar-se nos manuscritos que as primeiras letras de cada verso são de dimensões idênticas às restantes. Provavelmente, esta opção gráfica deve-se ao tipo de relação que o poeta tem com o trabalho de escrita que lhe impõe um cuidado e uma minúcia que têm algo de 'micro'. Como se desse atenção, não só às palavras e às frases, mas à letra, às letras enquanto tais, cuja grafia dissesse respeito ao tempo e ao pensamento, justamente no sentido de tudo começar na letra, pesando-a (pensando-a) e nela se demorar. Demorar na letra, na palavra, na frase, enfim na construção do poema. Como se as letras fossem partículas no jogo dessa construção, no forjar, no burilar do poema. Partículas que não só relevassem da gravação-inscrição (da) escrita, mas também como se fossem pequenas incrustrações na matéria suporte que é a folha de papel. Ou granulações da escrita. Vem a propósito aquele célebre verso de Pessanha que Manoel tanto aprecia: " [...] Conchas, pedrinhas, pedacinhos de ossos..."
Tudo isto tem a ver com o corpo e a escrita, não podendo aqui desenvolver estas questões. No texto que escrevi "O acto de escrita de Fernando Pessoa", parte dele publicado na Revista Nova Águia nº8, e na sua totalidade neste mesmo blogue, encontram-se algumas abordagens sobre o tema do corpo e da escrita, embora na leitura de  Pessoa.
Outra dificuldade é a de, por vezes, os nomes, como p.ex. o de "Lídia", surgirem com letra minúscula. Se bem que, no mesmo poema, o nome "Lídia" apareça tanto com letra minúscula como com maiúscula. Veja-se, conferindo o manuscrito, o terceiro poema desta série dedicado à "Lídia" de Ricardo Reis. Fica-se assim, por agora...

Uma última nota. Volto a repetir, não estou a publicar on line a obra poética de Manoel Tavares Rodrigues-Leal. Trata-se apenas de um ínfima parte. Se vale a pena, só o tempo o dirá.

Luís de Barreiros Tavares
18/02/2013


O verso ou reverso de uma página escrita. Eis um exemplo da relação escrita/inscrição, escrita/papel, escrita/ matéria, escrita/corpo... :







"O Umbigo da Beleza" (1976)









enquanto colhia uma rosa nua no pensamento,
alguém me pensava. que alegria aleatória
a de passear no pensamento dos outros. que vigília
sagrada!...uma linda rapariga repousa em sua lírica vagina.
a areia de uma rara rapariga respira a impossível praia, areia fina...

Lx. 2-6-76

Nota: Nos manuscritos há mais datas indicando as releituras e 'estudos' dos poemas. Escrevemos 'estudos'  de acordo com as indicações que o autor faz no início de cada caderno quando este foi sujeito a revisão: "[caderno] estudado".





(Clépsidra)


evanescente, com um perfume a ópio e ausência,
assim se abre a tua poesia, pessanha.
como em uma manhã messiânica, tua dor sombria, mental,
no umbigo de tantas alvas pedrinhas, pedacinhos de ossos, que oscilam ainda
nas impúdicas vulvas das pequenas praias, aonde assistes, familiar.
em ti, tudo foi medida, mamilos: oh viagens de quem para macau partiu,
e jamais regressou, tatuagem de quem sofreu e fingiu,
olhando, amiúde, para clépsidra, as águas geométricas do pensamento insatisfeito que pariu.

Lx.2-6-76







(Lídia...)


Há uma data de 1970 (?): Lx. 2-6-70


 (Lídia...)

que mentira verdadeira a de ser mero pensamento
na mesa da realidade. fragmento
de uma viagem ao oriente... no limiar
do mar colho a língua da onda mais recente.
(lídia, que adolescente taça tecemos, em vão)
se o dr. Ricardo Reis visse teu púbis beijado,
e, mais que beijado e apetecido, solícito à língua ou ângulo
do meu pénis exacto... afago a fímbria de exílio da praia, e não sou feliz...
o sangue do meu pranto jaz; sou poeta imerecido
de um exílio ou umbigo que nos olhares florescem, lídia,
como sofro o sofrimento do Ricardo, tão senhor e tão servo...
há uma penumbra inteligente e ática em seus poemas,
um perfume a desastres, ó mestre!...
Lídia, dá-me a mão, e, desertos, passemos nosso mútuo abandono...

Lx. 2-6-70 [mas este livro é de 76]
19-12-76




"O Comércio do Amor" (1980):









Clicar sobre as imagens para ampliar:





"Arte do Corpo" ("Espaço do Corpo") - 1977:











em a visitação de mulheres de heras crepusculares,
mas ardentes, e nós de tão ausentes nos fitamos excessivos,
nós amante do rocio dos seus regaços, nós que franqueamos vossos brancos flancos.

Lx.27-1-77




O autor assina "Manoel Pereira de Gouveia" (18/6/90), uma das datas de releitura (estudo) do poema



fevereiro fez ferida, iniciando-se inimigo.
oh noite inolvidável sob a usura de sexo e bica/s (?) e suór.
ter ternura é meta e mito, como riso deslizando em o perfil de uma manhã.

Lx.1-2-77 




(à São)

não houve saliva em nossos beijos à despedida.
por quê, meu bem? o beijo meramente é e coincide com a oferta do dia.
meu bem, beija-me com a abstracta boca de aventura e vida.
o resto é porvir que não se prevê. porque se difere, e a oblação de beijos como eu
em lume a diria.



"Luz de Dezembro" (1978):

(Para a Tereza)











 


 


"Poemana" (1976):

(à Ana -1973)









quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Poemas de "Luz de Dezembro" (1978) - Manuscritos - Manoel Rodrigues-Leal









sobre o poema em hélice
(combustão de beleza)
propuz-me o exílio, minha boca de aranha.




alheio estar
alma e recolhimento

e o esplendor do dia brilha ausente
secreto consentimento

alheio vivo fito núvens de pele



sob um lençol de luz,
caminhamos sobre a pele da praia.
em que ausente perfil jovem,
morre um deus exacto.





(à Maria)

A mulher respira seu anátema de amor, seu amor matinal. Oh matinal rio de memória fluindo entre as rugosas margens do pensamento. Sémen, talvez a mulher pense nos cus do céu: seu amante, vírgula de azul. É o seu culto de beleza que condu-la à ascese. Aqui nasce a solidão mais abrupta: a mulher respira meu pénis e eis-me castrado.

Lx. 8-9-78



espelho do tempo insone,
o sou. como um revólver. tempo
cúmplice, interdito. oh eu espero
a tarde antiga a singela mão
a escrever, irradiante, o poema zero.


Senhor, abençoái-me a luz
que se derrama em a fímbria das manhãs
decepadas quando se inaugura a paisagem do poema inicial.