"Tung-shan was a ninth-century Chinese master. One day when he was
crossing a stream he saw his own reflection in it. He at once composed the
following poem:
«Do not seek the truth from others:
Further and further he will retreat from
you.
Alone I go,
And I come across him wherever
I look.
He his no other than myself,
And yet I am not he.
When this is understood,
I am face to face with suchness (Tathata)»
«Do not seek the truth from others:
Further and further he will retreat from
you.
Alone I go,
And I come across him wherever
I look.
He his no other than myself,
And yet I am not he.
When this is understood,
I am face to face with suchness (Tathata)»
Anne Bancroft, Zen, Thames and Hudson, p.75.
Nota:
"Tathata" é um termo budista que quer dizer: «Naturalidade».
Imagem que figura no livro de Bancroft:: Tung-shan Crossing the stream, painting by Ma Yüan, China, 13th c. National Museum, Tokyo.
“Uma vigilância
limitada a uma simples atenção aos corpos, gestos, sensações, actividades
mentais e estados de consciência torna impossível o acesso à “vista” da
vacuidade, primeiro da vacuidade-talidade - na versão francesa: telléité - (sunyata-tathata), depois, da total
vacuidade (atyante sunyata).” (Dhammapada,
Les dits de Boudha, Albin Michel,
1993, p.18)
“Etimologicamente, a
raiz de realidade é o latim res, a
coisa, portanto realidade quer dizer “coisidade”, o carácter, a qualidade duma
coisa enquanto tal [donde ‘talidade’] – em Sânscrito, tathata, a talidade,
abusivamente traduzido por “absoluto”!” (Op.cit. p. 20)
Seria interessante
confrontar ‘talidade’ com talqualidade segundo Malevitch (“talqualidade
pictural”).
Não tem a célebre
pintura de Malevith, “Quadrângulo Negro”, assim como outras deste grande
pintor, algo que suscita a meditação? Aliás
já alguém assinalou este aspecto.
“Esta realidade não
concebível, ou verdadeira vacuidade, é também chamada assindade [ainsité] (bhutathata) e significa “é assim”.” (Thich
Nhat Hanh, La vision profonde, De la
Pleine Conscience à la contemplation intérieure, Albin Michel, 1995, p.144)
Tathata também é uma
expressão familiar de Tathagatha; mas não são o mesmo. O segundo termo remete
primeiramente para a natureza de Buda.
"Para fazer lembrar
aos seus discípulos a natureza sem começo, sem fim e incondicionada da
realidade, Buda pediu para a chamarem Tathagatha. Não é um título honorífico.
Tathagatha quer dizer “aquele que assim veio” ou “aquele que assim partiu”.
Isso significa que ele saiu da essência, permanece na essência, retorna à
essência, à realidade não concebível.” (Thich Nhat Hanh, Op. cit., p. 145)
“Tathâgata que se considera
comumente como um outro título do Buda, significa literalmente quer “aquele que
é assim vindo”, quer “aquele que é assim ido” (Suzuki, D.T., Essais sur le
Bouddhisme Zen, troisième série, trad. Jean Herbert, Albin Michel, 1972, p.242)
É interessante que
poderemos supor que Tathagatha é, ao mesmo tempo, “o que assim veio”, como “o que assim
partiu”.
“Podemos permanecer
apaziguadamente na verdadeira natureza da consciência. Esta é chamada a
realidade última. É o mundo da essência (tathata), o mundo da perfeita unicidade
do espírito e do objecto.” (Op.cit., p.169)
“A verdade (dharma) do Tathagata não podendo ser definida de qualquer maneira positiva, o Prajnâ-pâramitâ apresenta uma série de
negações. A única maneira de ser afirmativo neste domínio é chamar esta verdade
tathâta, quer dizer, “estado de ser
assim”, ou “quididade”, ou “identidade” (2) [nota de rodapé: no texto inglês: “suchness”
ou “so-ness”].” (Suzuki, D.T., Op. cit, terceira série, p.111)
“(…) o vazio é nomeado
o inacessível (anupalabdha) ou o
impensável (achynthia), o que mostra
que não é uma noção a fazer entrar numa categoria da lógica. Ele é sinónimo de
quididade (tathatâ). Tathatâ ou Shûnyatâ
é assim verdadeiramente o objecto de estudo dos Bodhisattvas.” (Suzuki, D.T., Op.
cit, terceira série, p.257)
Os termos Suchness (Talidade – qualidade de tal –
próprio de tal) bem como so-ness parecem-nos
bastante interessantes e convenientes. Todavia, “quididade”, e menos ainda “identidade”,
que são noções de tradição europeia remetendo para o grego, não nos parecem
apropriadas. Admiro muito o mestre e erudito Zen, conhecedor da tradição
filosófica europeia, Daisetz Teitaro Suzuki, autor das linhas citadas. Contudo,
D. T. Suzuki emprega sistematicamente, nesta obra, o termo “quididade” como
correlato de tathâta. Talvez a razão
se deva à facultação de uma melhor compreensão por parte do leitor ocidental
quanto a esta expressão budista tão interessante e crucial em nosso entender.
Justamente, permitindo pontes e reflexões acerca de certas matrizes entre estas
tradições, uma dita conceptual e a outra não, como Heidegger faz questão de
assinalar no célebre diálogo com um japonês.
“(…) lo que llamamos
“ser”, “individuo”, “persona” o “yo” no es sino un conjunto, sin existência real
própria, de elementos físicos y psíquicos sometidos ellos mismos a contínuos câmbios
[impermanência].
He aqui, resumida
muy esquematicamente, la doctrina de la no-entidade (anattâ) que enseñaba el Buda. Doctrina cuyo corolário es la “vacuidade”
(suññatâ) de la existência, en el
sentido de que la de que vida es un constante devenir, un flujo sin ninguna entidade,
personalidade o sustancias essencialmente reales. Esta concepción fundamental
es privativa del budismo, y no se encuentra en ninguna outra filosofia ou
religión. Para compreender bien la enseñanza del Buda y lograr la liberación [nibbâna, em Pali] que es el fin que
persigue, no basta com compreender esta doctrina intelectualmente, de modo conceptual
y abstracto, sino que hay que experimentarla vivencialmente, por experiencia propiá
– hay que vivirla com plena conciencia -.
Esto es lo que se consigue practicando las técnicas de meditación (es
decir, de observación directa de la experiencia en el momento mismo de vivirla) que enseñó el mismo Buda.”
(Nyânatiloka Mahâthera, La Palabra del Buda, trad. Amadeo Solé-Leris,
Barcelona, Ediciones Indigo, 1991, p.113) (Nota do autor e do tradutor).
Ora, como se viu
acima, tathata encontra-se na leitura com sunyata
(ou suññatâ, em pali): “vacuidade-talidade
- na versão francesa: telléité - (sunyata-tathata)”
(Dhammapada, Les dits de Boudha, p.19). Tal é a ‘talidade’ de tathata, a da qualidade de tal (coisa,
coisas) na sua impermanência. A oposição repouso / movimento, segundo o
entendimento habitual, perde o seu sentido. Pois repouso e movimento são já de
outra ordem. Donde a compreensão de tathata
enquanto vacuidade e impermanência.
Mas leia-se esta
passagem, entre outras, segundo as palavras de Buda sobre a atenção à
respiração (ânâpâ nasati): “(…)
Atento aspira, atento espira. Al hacer una aspiración larga, sabe: “Hago una
aspiración larga”; al hacer una espiración corta, sabe: “Hago una aspiración
corta”; al hacer una espiración corta, sabe: “Hago una espiración corta”. Consciente
de todo el cuerpo, aspiraré”, así se ejercita; “consciente de todo el cuerpo,
espiraré”, así se ejercita. “Calmando los processos corporales, aspiraré”, así
se ejercita; “calmando los processos corporales, espiraré”, así se ejercita. (…)”
(Nyânatiloka Mahâthera, La Palabra del Buda, p. 91).
O desdobramento do
estar do constatar (uma aparente forma de estaticidade, de imobilidade) que se
respira (al hacer una espiración corta, sabe: “Hago una aspiración corta”; al
hacer una espiración corta, sabe: “Hago una espiración corta”) vem a par de um
outro sentido de estaticidade da consciência e da plena atenção. O carácter de
estaticidade, de imobilidade (noção cara ao budismo) do “estar com”, do “saber”,
enfim, do constatar habitualmente abstractos, ou segundo uma certa abstracção
de cariz intelectual, altera-se articulando-se com o movimento. Por isso
também, o próprio sentido do movimento e do respirar enquanto movimento, se
desdobram, ganhando, por seu turno um outro sentido. Eis o caminho aberto para
outra experiência e vivência do repouso e movimento não se reduzindo já à mera
oposição entre ambos.
“…el sentido de que
la de que vida es un constante devenir, un flujo sin ninguna entidade,personalidade
o sustancias essencialmente reales…”
É o que encontramos
relativamente às sensações quando Buda diz: “E quando o monge, ao inspirar e
expirar, se exercita sentindo gozo, e se exercita sentindo felicidade, e se
exercita percebendo a actividade da mente, e se exercita acalmando a actividade
da mente, ao exercitar-se deste modo cultiva a contemplação das sensações nas
sensações” (Op. cit, ).
O mesmo acontecendo
para as sensações: “E quando o monge, ao inspirar e expirar, se exercita
sentindo gozo, e se exercita sentindo felicidade, e se exercita percebendo a
actividade da mente, e se exercita acalmando a actividade da mente, ao
exercitar-se deste modo cultiva a contemplação das sensações nas sensações”
(Nyânatiloka Mahâthera, La Palabra del Buda).
“tathatâ, (o facto de ser “isso”) ou bûthatâ (a realidade) são de ordem
metafísica” (Suzuki, D.T., Op.cit., première série, p.109)
“Lorsque l’esprit
est suffisamment entraîné, il voit que ni la négation (nir-atta), ni l’affirmation (atta)
ne s’appliquent à la realité, mais que la vérité consiste dans la connaissance
des choses telles qu’elles sont, ou plutôt telles qu’elles deviennent. Un
esprit réellement sincère et intégralement purifié est le préliminaire nécessaire
à la comprehension de la réalité dans son essence exacte. Comme résultat, nous
avons “ti yathâ-bhûtam pajânâti”, et
cela fut formulé ultérieurement par les mahâyânistes dans la doctrine du “fait
d’être cela” ou du “fait d’être tel” (bûtha-tathatâ).” (Suzuki, D.T., Op.cit.,
Première série, p.170)
“Na passagem que
abre este Sûtra [Sûtra sobre a Prajnâ-pâramita exposta por ManjushrÎ] ManjushrÎ
exprime assim o seu desejo de reencontrar o Buda sob o seu verdadeiro aspecto: “Desejo
ver o Buda tal qual ele é, para o benefício de todos os seres. Vejo o Buda sob
o aspecto de quididade (tathâtâ), de “não-alteridade”
(no-other-ness), de imutabilidade, de
não-actividade; vejo o Buda como livre de nascimento e morte, de forma e
não-forma, de relações de espaço e de tempo, de dualidade e não-dualidade, de
sujidade e pureza. Assim visto, ele é
sob o seu verdadeiro aspecto e todos os seres dele recebem benefício. (…).”
(Suzuki, D.T., Op.cit., Deuxième série, p.159)
Mas o “tal qual” não
significa igualdade do representado e da representação. Tão-pouco o “enquanto
tal” ontológico na linha aristotélica (o hê
grego do to on he on – ser enquanto ser)
“Lavar a loiça é ao
mesmo tempo um meio e um fim – porque não limpamos somente os pratos para que
eles fiquem prontos para servir, lavamos a loiça simplesmente para lavar a
loiça. Sou incapaz de limpar as peças de louça alegremente, se quero fazê-lo o
mais rapidamente a fim de poder tomar uma taça de chá, seria assim incapaz de
beber o meu chá alegremente.” (Thich Nhat Hanh, La vision profonde, De la Pleine Conscience à la contemplation
intérieure, p. 33)
“Desde o início da
nossa conversação, em nenhum momento pedi ao meu amigo para utilizar a sua
“matéria cinzenta”. Somente o convidei a “ver”, a “reconhecer” as coisas
comigo.” (Op. cit., p.48)
Pintura de Luís de Barreiros Tavares
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