Luís de Barreiros Tavares : Poderá ajudar-nos
aqui, leitores do blog "escrita-fone"? Por que reabilita os sofistas
(Górgias e Protágoras) no âmbito dos seus estudos da antepredicatividade no
Poema de Parménides e no contexto de Platão? Mas tendo em conta principalmente
a questão da autoreferencialidade da linguagem, do discurso no Eleata, a par
também das suas leituras de Platão. É certo que o seu interessante artigo
publicado na revista Dissertatio e re-publicado neste blog trata do
assunto:http://escrita-fone.blogspot.pt/search?q=leitura+de+%C3%A9+n%C3%A3o+%C3%A9+
Mas o que lhe peço é
uma breve nota, mais acessível e ao mesmo tempo preparatória para leituras mais
ou um pouco mais aprofundadas dos seus estudos.
Para já é tudo
09/07/2013
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José Trindade Santos: OK! Estou num
colóquio em Brasília.
Respondo logo.
09/07/2013
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J.T.S.: É difícil abordar,
quanto mais responder às suas importantes perguntas. Por este meio, só posso
dar indicações vagas.
1. Parménides é
acolhido por todos os pensadores gregos;
2. Os sofistas
(particularmente Górgias) usam os argumentos de P. para denunciar a
impossibilidade de chegar à realidade através do pensamento e da linguagem;
3. Platão aceita P.,
na República, mas a partir do Teeteto começa a tentar incorporar
os argumentos dos sofistas, aos quais só responde com êxito no Sofista.
4. Aí, empreende uma
revisão da concepção de ‘ser’ eleática, rejeitando o monismo e a imobilidade;
5. Só assim consegue
refutar Górgias (reformulando a negativa como alteridade):
6. O que está em
causa é a defesa de uma concepção referencialista do saber, pela qual todo o
discurso é sobre o real, esboçando uma concepção da ‘verdade’ como
‘correspondência’.
É claro que este
programa chega para alimentar um curso semestral. Nestes termos, alinha mal
teses que precisam de ser comprovadas nos textos.
10/07/2013
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L.B.T. : Obrigado pelas suas
palavras.
Todavia, gostaria
ainda de colocar-lhe algumas questões quanto à autoreferencialidade da
linguagem. Expressão que confesso interessar-me noutros contextos, e neste
também, o de Parménides, embora esteja ainda aflorar. Falo da
autoreferencialidade analisada no Suprematismo do grande artista plástico
Malevitch, partindo do célebre Quadrângulo Negro (1915) e de todo o processo
suprematista que se lhe seguiu : http://escrita-fone.blogspot.pt/search?q=suprematismo+malevitch É o post do escrita-fone com mais
visitas (cerca de 600), publicado a 5 de Abril de 2012. O José Gil tem estudos
muito interessantes sobre estes temas.
Mas retomando a
autoreferencialidade em Parménides. Apesar de, segundo entendi, ela não
reenviar para um conhecimento da realidade propriamente dita, pergunto se não é
condição de possibilidade de pensá-la, para falar kantianamente. É que se assim
for, não se conhece a "coisa em si", aproximativamente a realidade,
ou melhor, o real. Mas, nessa condição, ela é pensável, é o pensado,
precisamente na sua etimologia enquanto “nóumenon” ou “númeno. Creio no entanto
que por exemplo os seguintes passos do seu artigo mencionado na mensagem
anterior não seguem nessa linha kantiana: “cerne da argumentação sofística”;
“Parménides e os sofistas” e “antepredicatividade e cognição”.
Arriscaria uma tese
talvez provisória podendo despertar-me algum interesse para mais demorada
reflexão. É a de que, posto de parte algum paralelismo ou relação com Kant, há
uma outra via, digamos. Ou seja, até que ponto se poderá considerar a sua
investigação como uma modalidade do exercício do pensar enquanto tal? Exercício
do pensar focalizado na antepredicatividade em Parménides, uma vez que “ que é”
ou “o [nome] que é” nem sequer aponta para nóumenon. No fundo esta é uma tese
que me parece viável a partir das escassas leituras que até agora fiz dos seus
textos, pois o tempo não permitiu mais. Ela carecerá eventualmente de mais
trabalho, estudo e argumentação. Mas gostaria de saber se do seu ponto de vista
a tese é viável, se é de alguma maneira viável, ou não o é. E como? Ou para
simplificar: a sua investigação e pesquisa, pretende situar-se, inscrever-se
numa linha de tradição teorética, contemplativa, no sentido grego antigo do
pensar, não propriamente platónica, mas deslocando entre Parménides e Platão?
Se interessar...
12/07/2013
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J.T.S. : A ideia de que a
referência de Parm a "pensar/conhecer" é 'autoreferencial' decorre da
natureza antepredicativa do argumento. 'P/C' não é uma faculdade
relaciona um sujeito com um objecto do "conhecimento". A tese
sustenta apenas que um 'P/C' falível não é 'P/C'.
As duas noções do
'conhecimento' envolvidas não são comensuráveis. Ou seja, o 'P/C' só se refere
a si próprio, e não a qualquer outra entidade exterior ao 'P/C'.
Obrigado.
12/07/2013
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L.B.T. : Os seus estudos são
interessantes, mas densos e difíceis. Para já só mais umas questões. Depois vou
recarregar baterias e descansar.
Qual a função do
artigo definido ‘o’? Numas vezes refere, noutras não, e noutras ainda o coloca
entre aspas: a) “o [nome] que é”, “o [nome] que não é”; “o que é”, “o que não
é”; b) “que é”, “que não é”; c) “o” “que não é”, etc.
Creio, por exemplo,
que o resumo da sua conferência tem lá algumas respostas quando fala das 4
teses: http://escrita-fone.blogspot.pt/search?q=resumo+de+confer%C3%AAncia
Uma dúvida. No
artigo “Parménides antepredicativo” parece-me haver lá uma gralha (pág.5). Ou
então estou a fazer confusões. Em vez de “Do nosso ponto de vista
predicativo…..”, não será «Do nosso ponto de vista antepredicativo, “é / não é”
só podem ser encarados como expressões autoreferenciais, valendo como ‘nome’:
“é”, “o [nome] “que é”; “não é”, “o [nome] “que não é”, o “não-nome” (vide
anônymon: B8.17)».
Desculpe lá se não
estou a perceber bem.
13/07/2013
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J.T.S. : Boas perguntas!
"o", em
"o que é" traduz to eon. Sem "o", traduz eon:
"que é", "sendo" (mê eon, na
negativa: "o que não é"). À vezes a tradução "ser" (melhor
que "o ser"!) mete-se no caminho e confunde as questões.
A frase que cita é
ambígua. "Do nosso" não é "do meu". Para quem pensa na
lógica predicativa e nem consegue imaginar outra, a ideia de que a linguagem se
refere ao real é automática. Por isso, é preciso avisa-lo que, se quiser
pensar referencialmente, então o 'p/c' se refere a si próprio
(subentendendo a fusão do 'conhecimento/conhecer/conhecido'.
13/07/2013
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